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Capítulo 2: A vida amorosa de Moll Flanders

Página 291

Perguntei a uma mulher há quanto tempo ali estava e respondeu-me que havia quatro meses. Indaguei em seguida como lhe parecera tudo à chegada, e replicou-me:

- O mesmo que lhe parece a si agora, sinistro e assustador. - Julgara-se no inferno, acrescentou, e ainda se julgava. - Mas agora parece-me natural, já não me atormento com isso.

- Suponho que não corre o risco do que costuma seguir-se? – inquiri.

- Engana-se, garanto-lhe, pois fui condenada à morte. Declarei-me grávida, mas estou-o tanto como o juiz que me julgou e espero ser chamada nas próximas sessões.

Este «ser chamada» significa ter de cumprir a sentença, quando uma mulher obteve prorrogação por se dizer prenhe e se verifica que não estava ou, se estava, que pariu.

- E consegue falar com essa tranquilidade? - admirei-me.

- Que remédio! Para que hei-de estar triste? Se me enforcarem, acabou-se.

E voltou-se a dançar e a cantar:

Se na corda dançar,

O sino ouvirei tocar

E será o fim da pobre Jenny.

Menciono este pormenor para que qualquer prisioneiro que porventura tenha a desgraça de ir parar à sinistra Newgate reflicta como o tempo, a necessidade e a convivência com os desgraçados que lá se encontram o familiarizam com o lugar e como, por fim, se resigna com o que, ao princípio, era para si o maior terror do mundo, e se mostra tão impudentemente alegre e despreocupado na desgraça como antes dela.

Não posso dizer, como muitos, que este diabo não é tão negro como o pintam, pois não há cores que possam dar uma ideia exacta do sinistro lugar, nem alma que o possa conceber correctamente, a não ser aqueles que lá sofreram. Mas como o Inferno se pode tornar, a pouco e pouco, tão natural, e não somente tolerável, mas também, até, agradável, é uma coisa incompreensível, excepto para aqueles que o experimentaram, como eu.

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Capa do livro A Vida Amorosa de Moll Flanders
Páginas: 359
Página atual: 291

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Prefácio 1
A vida amorosa de Moll Flanders 7