- E aqui, meu querido, está o relógio de ouro!
O meu marido - a bondade divina produz sempre os mesmos efeitos em todos os espíritos sensatos quando as suas mercês tocam o coração- ergueu ambas as mãos, num transporte de êxtase e de alegria, e exclamou:
- Quanto bem Deus faz a um ingrato como eu!
Informei-o então de tudo o mais que trouxera no barco, ou seja, os cavalos, os porcos, as vacas e outras coisas para a nossa plantação, o que lhe aumentou a surpresa e encheu o coração de maior agradecimento. Creio que, desse momento em diante, se tornou o penitente mais sincero e o homem mais regenerado em que jamais aprouve à Providência transformar um devasso, um salteador e um ladrão. Podia escrever uma história muito maior que esta com provas de tal verdade e, embora suspeite que essa parte não seria lida com tanto agrado como a pecaminosa, pensei em formar um volume separado da mesma.
Por agora, como pretendo narrar a minha história, e não a do meu marido, volto ao que a mim própria respeita. Administrámos a nossa plantação com a ajuda e os conselhos dos amigos que arranjámos naquelas paragens por via do nosso comportamento amável, e sobretudo com a ajuda do honesto quacre, que se tornou um amigo generoso e fiel, e fomos muito bem sucedidos. Devido a termos começado com bom capital, como já disse, além das cento e cinquenta libras em dinheiro que recebi do meu filho, aumentámos o número de servos, construímos uma boa casa e arámos todos os anos bom pedaço de terra. No segundo ano escrevi à minha velha governanta a comunicar-lhe a alegria do nosso êxito e a indicar-lhe a maneira de dispor do dinheiro que lhe deixara, ou sejam duzentas e cinquenta libras, enviando-no-las em mercadorias, o que fez com a habitual amabilidade e fidelidade.