Teve-me de novo ao seu dispor durante hora e meia e voltámos aos mesmos argumentos - ou, pelo menos, a outros tão parecidos que seria enfadonho repeti-los. Por fim perguntei-lhe, veemente, que opinião fazia do meu pudor para imaginar que poderia acalentar, sequer, a ideia de dor- mir com dois irmãos e jurei-lhe que tal jamais seria possível. Acrescentei que, se tivesse de dizer-me que nunca mais nos veríamos, nada além da morte seria mais terrível que esse desgosto, mas que nem mesmo assim poderia aceitar um pensamento tão desonroso para mim e tão vil para ele; portanto, supliquei-lhe, se ainda lhe restava uma sombra de respeito ou de afecto por mim, não me falasse mais em tal solução ou desembainhasse a espada e me matasse. Pareceu surpreendido com a minha obstinação, como lhe chamou, e disse-me que, com ela, estava a ser cruel comigo e com ele. O que surgira era uma crise que a ambos ameaçava e que nenhum de nós pudera prever, e, como não via nenhuma outra maneira de evitar a desgraça de ambos, considerava muito cruel a minha teimosia. Se não queria ouvi-lo falar mais no caso, acrescentou com desusada frieza, nada mais teríamos a dizer. Levantou-se para se despedir e eu levantei-me também, fingindo igual indiferença, mas, quando ia a dar-me um beijo de adeus, rompi num pranto tão desesperado que, embora quisesse falar, não consegui proferir palavra e só fui capaz de lhe apertar violentamente a mão, sacudida de terríveis soluços.
Comovido, voltou a sentar-se e disse-me palavras muito ternas, para acalmar o meu desespero, mas não deixou de insistir na necessidade do passo cruel que me propusera e de me dar claramente a entender que, se recusasse, continuaria a manter-me, mas repudiar-me-ia no principal, isto é, nem como amante me quereria; era ponto de honra para si não se deitar com a mulher que, por tudo quanto sabia, podia vir a ser a esposa do irmão.
