Não era a simples perda dele como amante que me afligia, mas a perda da sua pessoa, que, na verdade, amava loucamente; isso e o ruir de todos os meus sonhos, das esperanças que sempre arquitectara de, um dia, o ter por marido. Estes desgostos atormentavam-me tanto que adoeci gravemente, lançada para as garras de uma febre alta pelas angústias do meu espírito, e durante muito tempo ninguém da família esperou que sobrevivesse.
O meu estado era desesperado e muitas vezes delirava, mas nada me atormentava tanto como o receio de, na inconsciência do delírio, dizer alguma coisa que o prejudicasse. Fazia-me sofrer, também, o desejo de o ver, e o mesmo acontecia com ele, pois, na realidade, amava-me apaixonadamente; mas não era aconselhável para nenhum de nós realizar esse desejo, nem tão-pouco torná-lo decente.
Estive de cama durante cinco semanas e, embora a violência da febre acalmasse ao fim de três, tive várias recaídas. Os médicos afirmaram duas ou três vezes nada mais poderem fazer por mim do que deixar a natureza e a enfermidade travar a sua luta, limitando-se a fortalecer a primeira com estimulantes, para lhe aumentarem a resistência. Ao fim de cinco semanas melhorei, mas fiquei tão fraca, tão transtornada, tão melancólica, e convalescia tão lentamente, que os médicos recearam que contraísse a tísica. O que mais me afligia, porém, era afirmarem que o meu espírito estava transtornado, que qualquer coisa me atormentava, que, em suma, estava apaixonada. Perante tais afirmações, toda a família se empenhou em observar-me, em insistir para que confessasse se estava ou não apaixonada e, na afirmativa, por quem; mas neguei sempre, o melhor que pude, que amasse alguém.
Por essa ocasião tiveram um dia, à mesa, uma discussão a meu respeito, que por pouco não redundava em zanga para toda a família.
