Preferia, já que chegámos a este desgraçado extremo, ser tua amante a ser mulher do teu irmão.
Pareceu lisonjeado e comovido com a última tirada e afirmou-me que os seus sentimentos eram os mesmos e que não traíra nenhuma das pro- messas que me fizera, mas previa tantas coisas terríveis na situação que eu teria de enfrentar que, sobretudo por amor de mim, pensara na solução apresentada como o melhor remédio. A separação não seria total, disso estava certo, pois podíamos amar-nos como amigos durante o resto dos nossos dias e talvez com maior satisfação do que nos amaríamos se as coisas continuassem no pé em que estavam, em virtude do que podia acontecer. Ousava dizer, acrescentou, que eu não lucraria nada em trair um segredo que, divulgado, só redundaria na desgraça de ambos, e afirmou desejar fazer-me uma pergunta de cuja resposta tudo dependeria. Se fosse negativa, continuaria convencido de que a solução proposta era o único passo que eu podia dar.
Adivinhei de que pergunta se tratava, e que era se eu tinha a certeza de não estar grávida, e respondi-lhe que não precisava de se preocupar a esse respeito, pois não concebera.
- Bem, minha querida, não temos mais tempo para conversar agora - declarou. - Pensa bem, reflecte com cuidado, pois, em minha opinião, o passo que te aconselhei é o melhor que poderás dar.
Despediu-se apressadamente, visto a mãe e as irmãs terem chegado ao portão no momento em que se levantava para partir.
Deixou-me com o espírito na maior das confusões, como facilmente compreendeu no dia seguinte e durante o resto da semana, pois a nossa conversa decorrera numa terça-feira à tarde e só no domingo seguinte teve oportunidade de me falar de novo. Nesse dia aleguei uma indisposição para não ir à igreja e ele arranjou também uma desculpa qualquer para ficar em casa.
