Estas são algumas das inferências sérias que este livro nos obriga a tirar, mas chegam perfeitamente para justificar que qualquer homem o recomende e, muito mais ainda, para justificar a sua publicação.
Ficam por contar duas das mais belas partes, das quais esta história dá já alguma ideia, mas são ambas excessivamente longas para serem incluídas no mesmo volume, constituindo, posso dizê-lo, volumes completos em si mesmas.
A primeira é a vida da sua governanta, como ela lhe chama, que, ao que parece, desempenhou em poucos anos os papéis eminentes de senhora distinta, meretriz e alcoviteira; parteira e contratadora de parteiras, como são chama- das, penhorista, ama de crianças, recebedora de ladrões e das aquisições destes, ou seja, receptadora de mercadorias roubadas; e, numa palavra, ela própria ladra, instrutora de ladrões e outros que tais e, contudo, finalmente arrependida.
A segunda é a vida do seu marido deportado, um ladrão de estrada que, parece, viveu doze anos de próspera vilania, na estrada, e teve tanta sorte que, no fim, foi um deportado voluntário, não condenado, e em cuja vida há uma variedade incrível de peripécias.
Mas, como já disse, qualquer delas é excessivamente longa para ser incluída neste livro e tão-pouco posso prometer a sua publicação independente.
Não afirmo que esta história conte até ao fim a vida da famosa Moll Flanders, como ela a si mesma se chama, pois ninguém pode narrar a sua própria vida até ao fim absoluto, a não ser que tivesse possibilidade de o fazer depois de morto. Mas a vida do marido, escrita por mão de terceiro, conta a história completa de ambos, como viveram juntos naquele país e como, após cerca de oito anos, voltaram ambos muito ricos a Inglaterra, onde ela viveu, consta, até uma idade muito avançada, mas com um arrependimento menos extraordinário que ao princípio.
