Em seguida adulou o irmão e persuadiu-o de que lhe prestara um grande favor, convencendo a mãe a dar o seu consentimento, o que, na verdade, fizera, não para prestar serviço a irmão, mas a si mesmo. Assim conseguiu ludibriar o rapaz e levar um irmão leal a agradecer-lhe por lhe ter posto nos braços, como esposa, a mulher que fora sua amante. É deste modo que o interesse se sobrepõe a toda a espécie de afectos, e com esta naturalidade que os homens esquecem honra e justiça, humanidade, e até cristianismo, para obterem o que lhes convém.
Devo agora falar do irmão Robin, como sempre lhe chamámos. Sabedor do consentimento da mãe, veio comunicar-mo todo ufano e contar-me a história toda com uma sinceridade tão evidente que, confesso, me custou colaborar no ludíbrio de tão honesto cavalheiro; mas não tinha outro remédio. Ele ter-me-ia e eu não era obrigada a dizer-lhe que fora barregã do irmão, embora essa fosse a única maneira de o levar a desistir. Assim, deixei-me convencer gradualmente, para sua satisfação, e consenti em aceitá-lo por esposo.
O pudor impede-me de revelar os segredos do leito nupcial, mas nada podia ter sido mais conveniente para o estado em que me encontrava do que o facto de o meu marido se deitar tão ébrio que, de manhã, não se lembrava se tivera relações comigo. Fui obrigada a dizer-lhe que sim, embora tal não tivesse acontecido, para ter a certeza de que não me faria perguntas difíceis de responder.
Pouco interesse tem para a história relatar mais pormenores acerca da família ou de mim própria relativos aos cinco anos que vivi com este marido. Basta dizer que tive dois filhos seus e que ele morreu findos esses cinco anos. Foi realmente um bom marido e demo-nos muito bem, mas, como não recebera muito dos seus e no pouco tempo que viveu poucos bens adquiriu, por sua morte a minha situação não era invejável nem lucrei muito com o casamento.
