Flanders.
Embora me escondesse e os meus novos conhecimentos nada soubessem a meu respeito, não tardei a ver-me rodeada de muitos companheiros. Fosse por escassearem as mulheres entre o tipo de pessoas que geralmente se encontram em lugares como aquele, fosse por determinadas circunstâncias, ao deboche e à companhia de homens em idênticas circunstâncias, repetindo o pecado e avançando todos os dias um passo no caminho da destruição.
Mas eu ainda não era tão pecadora como eles. Pelo contrário, começava a pensar muito a sério no que devia fazer, no pé em que as coisas estavam e no caminho que devia seguir. Sabia que não tinha amigos - não, nem um amigo nem um parente em todo o mundo - e que o pouco que possuía desaparecia e, quando se acabasse, só teria na minha frente miséria e fome. Movida por tais considerações e pelo horror do lugar onde me encontrava e dos seres miseráveis que tinha sempre diante dos olhos, resolvi partir.
Travara conhecimento com uma mulher muito recatada e boa, também viúva como eu, mas em melhores circunstâncias. O marido fora ca- pitão de um navio mercante, mas tivera a pouca sorte de naufragar numa viagem de regresso das Índias Ocidentais, a qual teria sido muito proveitosa se se houvesse concluído normalmente, e, embora tivesse salvo a vida, ficara tão abalado pelo prejuízo que o coração se lhe despedaçara e morrera. A viúva, perseguida pelos credores, vira-se obrigada a procurar abrigo no Mint. Depressa recompuseram as coisas, contudo, graças à ajuda de amigos, e estava novamente em liberdade. Ao perceber que me encontrava ali mais para me esconder do que por ser vítima de quaisquer perseguições e que concordava com ela, ou, melhor, ela comigo, numa justa repugnância pelo lugar e pela companhia, convidou-me a ir consigo para sua casa, até decidir o meu futuro, dizendo-me, ao mesmo tempo, haver muitas possibilidades de algum bom capitão de navio se enamorar de mim na parte da cidade onde vivia.
