Meu marido foi tão correcto comigo - repito, ele era um cavalheiro - que na primeira carta que me escreveu de França me comunicou onde empenhara por trinta libras vinte peças de excelente linho cru que valiam mais de noventa, juntando a cautela e uma ordem de levantamento, me- diante a respectiva importância. Levantei as peças e obtive mais de cem libras, pois não me faltava tempo para as cortar e vender uns metros a esta família e outros àquela, conforme a oportunidade se oferecia.
Com tudo isso, porém, e com o que eu pusera antes em lugar seguro, verifiquei, ao dar balanço ao que me restava, que me encontrava numa situação muito diferente e com a minha fortuna muito reduzida. Incluindo o linho cru, um fardo de musselinas finas que pusera a recato, alguns objectos de prata e outras coisas, o meu património mal atingia as quinhentas libras. Além disso, a minha situação era muito estranha, pois, embora não tivesse filhos (tivera um do meu fanqueiro-cavalheiro, mas morrera), era uma viúva com marido e não podia pensar em novo casamento, apesar de saber muito bem que o meu esposo não voltaria a Inglaterra, ainda que vivesse mais cinquenta anos. Assim, estava-me vedado o matrimónio, fossem quais fossem as propostas que me fizessem, e não tinha um amigo que me aconselhasse na emergência - pelo menos nenhum a quem ousasse confiar o segredo da minha situação, pois, se os representantes da comissão de falência fossem informados do meu paradeiro, deter-me-iam e interrogar-me-iam sob juramento e tirar-me-iam tudo quanto poupara.
Tomada de tais apreensões, a primeira coisa que fiz foi afastar-me dos meus conhecimentos e adoptar outro nome. Para tal, acolhi-me também no Mint, instalei-me num lugar isolado, vesti-me de viúva e passei a chamar-me Mrs.
