Nenhum homem de bom senso prezará menos uma mulher por não se render ao primeiro ataque e não aceitar a sua proposta de casamento sem antes se informar acerca da sua pessoa e do seu carácter. Pelo contrário, se o fizesse, achá-la-ia a criatura mais fraca do mundo, dada a escala de apreciação por que os homens se regulam nos tempos que correm; em resumo, formaria uma opinião muito desdenhosa das suas qualidades, e até da sua inteligência, se, tendo apenas uma vida, ela a jogasse ao desbarato e transformasse o matrimónio, como a morte, num salto para as trevas.
Muito gostaria de que a conduta das representantes do meu sexo to- masse um caminho mais sensato neste particular, pois é por ele que, em toda a nossa vida, mais sofremos. O medo de não casar e daquele terrível estado em que nos chamam velhas solteironas é apenas falta de coragem. É essa, repito, a armadilha estendida às mulheres; mas se estas vencessem este medo e procedessem sensatamente, a maneira de não caírem nela seria defenderem os seus direitos num caso tão absolutamente essencial à sua felicidade, e nunca arriscarem-se como se arriscam. Se não casassem tão cedo como casam, procedendo à toa, teriam pelo menos a vantagem de casar com mais segurança. Casa sempre cedo de mais a que arranja um mau marido, e nunca casa tarde de mais a que arranja um bom. Numa palavra, não há nenhuma mulher - exceptuando os casos de deformidade ou de má reputação - que, tarde ou cedo, se proceder com tino, não acabe por casar; mas, se se precipita, as probabilidades de infortúnio seu são de dez mil contra uma.
Falarei agora do meu próprio caso, que, nesta ocasião, nada tinha de invejável. Por via das circunstâncias em que me encontrava, de nada precisava tanto como de uma boa proposta de casamento, mas não tardei aperceber que tornar-me humilde e acessível era contraproducente e não ajudava nada.
