A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 75 / 359

Nada é mais certo do que as senhoras lucrarem sempre quando procuram defender a sua posição, fazendo ver aos seus pretendentes que se ofendem quando as menosprezam e que não têm medo de dizer «não». Tenho notado que nos insultam com alusões à nossa Superioridade numérica, dizendo que as guerras, o mar, as profissões e outros incidentes têm arrebatado tantos homens que não existe proporção entre os dois sexos e, portanto, as mulheres estão em desvantagem. Estou longe de crer que o número de mulheres seja tão grande e o de homens tão pequeno, mas, se quereis que seja franca, deixai-me dizer que a apregoada desvantagem das mulheres é uma grande vergonha para os homens e reside apenas nisto: na perversidade da época e na libertinagem do sexo e, também, no facto de o número de homens com os quais uma mulher honesta se pode entender ser pequeníssimo e só aqui e ali se encontrar um digno de uma mulher se arriscar.

Mas até as consequências disso se resumem tão-somente na necessidade de as mulheres serem ainda mais circunspectas - pois de que outra maneira podemos saber o verdadeiro carácter do homem que faz o pedido? Dizer que, por isso mesmo, as mulheres deviam ser mais acessíveis, equivaleria a aumentar os riscos, já de si muito grandes, o que, na minha opinião, é absurdo.

Pelo contrário, as mulheres têm dez mil vezes mais motivos para serem cautelosas e relutantes, pois o risco de serem traídas é muito maior. Se as senhoras reflectissem nisto e procedessem com prudência, descobririam todos os logros e todas as armadilhas, pois, numa palavra, poucos são, hoje em dia, os homens de carácter. Um pequeno inquérito bastará para que identifiquem o pretendente e se entreguem, depois, com confiança. Quanto às mulheres que acham não valer a pena preocuparem-se com a sua segurança e, impacientes pelo casamento, resolvem, como dizem, aceitar o primeiro bom cristão que lhes aparece e correm para o matrimónio como um cavalo para a batalha, a essas só posso dizer que precisam que orem por elas como por outras pessoas desequilibradas e que, aos meus olhos, são criaturas que arriscam todos os seus bens numa lotaria onde há um prémio e cem mil números brancos.





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