Correu depressa a notícia de que a viúva não tinha fortuna, e afirmar isso equivaleu a dizer todo o mal possível de mim, pois comecei a ser esquecida em todas as conversas de casamento. Ser bem educada, bonita, inteligente, recatada e atraente, como me consideravam - se justa ou injustamente, não vem agora a propósito -, mas sem dote, não chegava, pois o dote era agora mais valioso do que a própria virtude. Numa palavra, diziam, a viúva não tinha dinheiro.
Achei, portanto, que, dadas as circunstâncias, se impunha absolutamente uma mudança de ambiente, ir para um lugar onde não me conhecessem e, até, adoptar outro nome, se me fosse possível.
Confiei os meus pensamentos à minha amiga íntima, a esposa do capitão, à qual tão lealmente ajudara no seu caso e que se mostrou tão empenhada em ajudar-me, no meu, quanto eu poderia desejar. Não tive pejo em expor-lhe francamente a minha situação financeira, que, como já disse, não era nada invejável. O meu dinheiro, no fim do último negócio que fizera, eram quinhentas e quarenta libras, mas já gastara algumas; restavam-me, no entanto, cerca de quatrocentas e sessenta, muitas roupas luxuosas, um relógio de ouro, algumas jóias, embora o seu valor não fosse extraordinário, e cerca de trinta ou quarenta libras de tecidos em peça, de que ainda não dispusera.
A minha querida e fiel amiga estava-me tão grata pelo serviço que lhe prestara no seu casamento que não só nunca me faltou com a sua amizade firme, como também, conhecedora da minha situação, me presenteava frequentemente quando recebia dinheiro, concedendo-me uma espécie de pensão graças à qual não gastava o pouco que me restava. Por fim deu-me um triste conselho, dizendo-me que, se os homens não tinham escrúpulos ao pretenderem uma mulher com fortuna quando eles não tinham nenhuma, seria justo pagar-lhes na mesma moeda e, se possível, enganar o enganador.
