Contou-me voluntariamente todos os seus negócios, usando da maior franqueza e sinceridade, pelo que fiquei a saber que estava muito bem instalado na vida, mas que o grosso dos seus bens consistia de três plantações que tinha na Virgínia e lhe proporcionavam um rendimento anual da ordem das trezentas libras, embora pudessem render-lhe quatro vezes mais se lá vivesse e as administrasse. «Muito bem», disse para comigo, «levar-me- -ás para lá assim que quiseres, mas não to direi de antemão.»
Brinquei muito com ele acerca da figura que faria na Virgínia, mas percebi que, ainda que satisfizesse todos os meus desejos, não lhe agradava que menosprezasse as suas plantações. Mudei, por isso, a feição da conversa e disse-lhe ter boas razões para não querer viver lá, pois, se as suas plantações valiam assim tanto, eu não tinha fortuna digna de um cavalheiro com mil e duzentas libras de renda anual, como ele dissera que as suas propriedades renderiam.
Respondeu-me generosamente que não perguntaria a quanto montava a minha fortuna, pois desde o princípio dissera que não o faria e seria fiel à sua palavra; mas, fosse ela qual fosse, afirmava-me que jamais exigiria que o acompanhasse à Virgínia ou iria sem mim, se não fosse esse o meu desejo.
Tudo isto era exactamente à medida dos meus desejos, podeis estar certos, e nada me agradaria mais. Deixei as coisas arrastarem-se até este ponto com uma espécie de indiferença que muitas vezes o intrigou, mais que ao princípio, mas que era um incentivo para o seu namoro, e, se refiro agora esse pormenor, é para, mais uma vez, demonstrar às senhoras que só a falta de coragem para simular tal indiferença avilta tanto o nosso sexo e é responsável pelo mau tratamento que os homens lhes infligem.