Se, de vez em quando, se arriscarem a perder um pretendente janota, excessivamente convencido dos seus próprios méritos, seriam, com certeza, menos menosprezadas e mais cortejadas. Graças ao meu procedimento, prendera-o tão bem e mantivera-o tanto tempo na incerteza que, mesmo que lhe revelasse francamente em que consistia a minha grande fortuna e lhe dissesse que não chegava a ter quinhentas libras, quando ele esperava mil e quinhentas, estava certa de que, apesar de tudo, me aceitaria. Além disso, a sua surpresa seria menor quando soubesse a verdade, pois, como não tinha a mínima censura a fazer-me, uma vez que eu arvorara até ao fim um ar de indiferença, ele não teria nada a dizer, salvo que pensara que fosse mais, mas que, ainda que fosse menos do que era, se não arrepende- ria do negócio; simplesmente, ele não poderia manter-me tão bem como tencionara.
Em resumo, casámo-nos, e, pelo que me diz respeito, muito bem, garanto-vos, quanto ao género de marido que arranjara; era o homem mais bondoso que se possa imaginar, embora a sua situação não fosse tão boa como eu julgara, visto ele não ter beneficiado tanto com o casamento como contara.
Depois de nos casarmos comecei a preparar cautelosamente o terreno para lhe desferir o pequeno golpe que tinha de reserva para ele, para que não continuasse na dúvida. Assim, como era inevitável elucidá-lo, aproveitei uma oportunidade em que estávamos sós e iniciei um pequeno diálogo com ele a esse respeito:
- Meu querido, estamos casados há quinze dias; não será tempo de saberes se a tua mulher tem ou não alguma coisa?
- Informar-me-ás a esse respeito quando quiseres, minha querida. Por mim, basta-me saber que casei com uma mulher que amo. Não te tenho importunado muito com esse assunto, pois não?
- É verdade que não.