Mas nunca perdia o seu tom de polidez sempre que abria a boca para falar.
March, pelo contrário, parecia rejubilar naquela atmosfera. Sentada entre os dois antagonistas, bailava-lhe no rosto um leve sorriso perverso, como que profundamente divertida com tudo aquilo. Quase que até havia uma espécie de complacência no modo como naquela noite trabalhava no seu lento e laborioso croché.
Uma vez deitado, o jovem deu-se conta de que as duas mulheres conversavam e discutiam no quarto delas. Sentando-se na cama, apurou o ouvido na tentativa de perceber aquilo que estavam a dizer. Mas não pôde ouvir nada, pois os quartos ficavam demasiado longe um do outro. Não obstante, foi-lhe possível distinguir o timbre brando e plangente da voz de Banford em contraponto com o tom de March, mais fundo e cavo.
Estava uma noite calma, silenciosa e glacial. Grandes estrelas cintilavam no céu, para lá dos cumes mais altos dos pinheiros. Atento, ele escutava e tornava a escutar. Na distância, ouviu o regougar do raposo, o ladrar dos cães que lhe respondiam das quintas. Mas nada disso lhe interessava. De momento, o seu único interesse era poder ouvir aquilo que as duas mulheres estavam a dizer.
Saltando furtivamente da cama, pôs-se de pé junto à porta. Mas, tal como antes, era-lhe impossível ouvir fosse o que fosse. Então, com todo o cuidado, começou a levantar o trinco e, ao fim de algum tempo, a porta deu finalmente de si. Depois, esgueirando-se sub-repticiamente para o corredor, deu alguns passos cautelosos. Mas as velhas tábuas de carvalho, geladas sob os seus pés nus, estavam com rangidos insólitos, inoportunos.