Perfeitamente imóvel, olhou então para cima, para a árvore inclinada e instável. E, enquanto olhava para o céu, como um caçador observando o voo da ave que se propõe abater, pensou para consigo: «Se a árvore cair da forma que parece indicar, dando uma volta no ar antes da queda, então aquele ramo além vai abater-se sobre ela, no ponto exacto em que ela está, de pé no cimo daquele talude.»
Voltou então a olhá-la. Lá estava ela, a afastar os cabelos da testa, naquele seu gesto tão habitual e constante. No fundo do seu coração, ele já decidira que ela tinha de morrer. Uma força terrível, paralisante, pareceu nas-
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cer dentro de si à semelhança de um poder de que fosse ele o único detentor. Se se voltasse, se fizesse qualquer movimento, mesmo que ínfimo como um cabelo, na direcção errada, então aquele poder fugir-lhe-ia, esfumar-se-ia instantaneamente.
- Tenha cuidado, Miss Banford - disse então ele. E o seu coração como que se imobilizou, inteiramente possuído daquela vontade pura, daquele desejo indómito de que ela não se movesse.
- Quem, eu? Quer que eu tenha cuidado, é? - gritou-lhe Banford, numa voz possuída do mesmo tom sarcástico do pai. - Porquê, pensa que me pode atingir com o machado, é isso?
- Não, mas no entretanto pode dar-se o caso de ser a árvore a atingi-la - respondeu ele numa voz neutra. Contudo, o tom em que falou fê-la deduzir que ele estava tão-só a ser falsamente solícito no intuito de a levar a mover-se, no prazer de a ver vergar, obediente, sob a sua vontade.
- Isso é absolutamente impossível - disse ela então.
Ele ouviu-a. Contudo, manteve a sua imobilidade de estátua, quedando-se hirto e parado como um bloco de gelo, não fosse o seu poder esvair-se.