Jacinto estendera o braço: - Que casarão é aquele, além no outeiro, com a torre? Eu não sabia. Algum solar de fidalgote do Douro... Tormes era nesse feitio atarracado e maciço. Casa de séculos e para séculos - mas sem torre.
- E logo se vê, da estação, Tormes?... - Não! Muito no alto, numa prega da serra, entre arvoredo, No meu Príncipe já evidentemente nascera uma curiosidade pela sua rude casa ancestral. Mirava o relógio, impaciente. Ainda trinta minutos! Depois, sorvendo o ar e a luz, murmurava, no primeiro encanto de iniciado:
- Que doçura, que paz... - Três horas e meia, estamos a chegar, Jacinto!
Guardei o meu velho «Jornal do Comércio» dentro do bolso do paletó, que deitei sobre o braço, - e ambos em pé, às janelas, esperámos com alvoroço a pequenina estação de Tormes, termo ditoso das nossas provações. Ela apareceu enfim, clara e simples, à beira do rio, entre rochas, com os seus vistosos girassóis enchendo um jardinzinho breve, as duas altas figueiras assombreando o pátio, e por trás a serra coberta de velho e denso arvoredo...
Logo na plataforma avistei com gosto a imensa barriga, as bochechas menineiras do chefe da estação, o louro Pimenta, meu condiscípulo em Retórica, no Liceu de Braga. Os cavalos decerto esperavam, à sombra, sob as figueiras.
Mal o trem parou ambos saltámos alegremente. A bojuda massa do Pimenta rebolou para mim com amizade:
- Viva o amigo Zé Fernandes! - Oh belo Pimentão!... Apresentei o senhor de Tormes. E imediatamente: - Ouve lá, Pimentinha... Não está aí o Silvério? - Não... O Silvério há quase dois meses que partiu para Castelo de Vide, ver a mãe que apanhou uma comada de um boi!
Atirei a Jacinto um olhar inquieto: - Ora essa! E o Melchior, o caseiro?... Pois não estão aí os cavalos para subirmos à quinta?
O digno chefe ergueu com surpresa as sobrancelhas cor de milho: - Não!.