O Grilo desgarrado, encalhado com as vinte e três malas, ou rolando talvez para Madrid sem nos deixar um lenço...
- Eu não tenho um lenço!... Tenho este «Jornal do Comércio». É toda a minha roupa branca.
- Grande arrelia, caramba! - murmurava o Pimenta, impressionado. - E agora? - Agora - exclamei - é trepar para a quinta, à pata... A não ser que se arranjassem ai uns burros.
Então o carregador lembrou que perto, no Casal da Giesta. ainda pertencente a Tormes, o caseiro, seu compadre, tinha uma boa égua e um jumento... E o prestante homem enfiou numa carreira para a Giesta - enquanto o meu Príncipe e eu caíamos para cima de um banco, arquejantes e sucumbidos, como náufragos. O vasto Pimentinha, com as mãos nas algibeiras, não cessava de nos contemplar, de murmurar: - É de arrelia. - O rio defronte descia, preguiçoso e como adormentado sob a calma já pesada de Maio, abraçando, sem um sussurro, uma larga ilhota de pedra que rebrilhava. Paraalém a serra crescia em corcovas doces, com uma funda prega onde se aninhava, bem junta e esquecida dó mundo, uma vilazinha clara. O espaço imenso repousava num, imenso silêncio. Naquelas solidões de monte e penedia os pardais, revoando no telhado, pareciam aves consideráveis. E a massa rotunda e rubicunda do Pimentinha dominava, atulhava a região.
- Está tudo arranjado, meu senhor! Vêm aí os bichos!... SÓ o que não calhou foi um selinzinho para a jumenta!
Era o carregador, digno homem, que voltava da Giesta. sacudindo na mão duas esporas desirmanadas e ferrugentas. E não tardaram a aparecer no córrego, para nos levarem a Tormes, uma égua ruça, uni jumento com albarda, um rapaz e um podengo. Apertámos a mão suada e amiga do Pimentinha. Eu cedi a égua ao senhor de Tormes. E começámos