Segura estava a sua Ressurreição depois de tantos anos de cova, da cova mole em que jazera, enfaixado como uma múmia nas faixas do Pessimismo!
E o que esse Príncipe, nesta tarde, me esfalfou! Farejava, com uma curiosidade insaciável, todos os recantos da `serra!, Galgava os cabeços correndo, como na esperança de descobrir lá do alto os esplendores nunca contemplados de um mundo inédito. E o seu tormento era não conhecer os nomes das árvores, da mais rasteira planta brotando das fendas de um socalco... Constantemente me folheava como a um Dicionário Botânico.
Fiz toda a sorte de cursos, passei pelos professores mais ilustres da Europa, tenho trinta mil volumes, e não sei se aquele senhor além é um amieiro ou um sobreiro...
É um azinheiro, Jacinto. Já a tarde caía quando recolhemos muito lentamente. E toda essa adorável paz do céu, realmente celestial, e dos campos, onde cada folhinha conservava uma quietação contemplativa, na luz docemente desmaiada, pousando sobre as coisas com um liso e leve afago, penetrava tão profundamente Jacinto, que eu o senti, nó silêncio em que caíramos, suspirar de puro alívio.
Depois, muito gravemente: - Tu dizes que na Natureza não há pensamento... - Outra vez! Olha que maçada! Eu... - Mas é por estar nela suprimido o pensamento que lhe está poupado o sofrimento! Nós, desgraçados, não podemos suprimir o pensamento, mas certamente o podemos disciplinar e impedir que ele se estonteie e se esfalfe, como na fornalha das cidades, ideando gozos que nunca se realizam, aspirando a certezas que nunca se atingem!... E é o que aconselham estas colinas e estas árvores à nossa alma, que vela e se agita - que viva na paz de um sonho vago e nada apeteça, nada tema, contra nada se insurja, e deixe o Mundo rolar, não esperando dele senão um rumor de harmonia, que a embale e lhe favoreça o dormir dentro da mão de Deus.