Um biombo de laca verde, fresco verde de relva, resguardava a chaminé de mármore verde, verde de sombrio, onde esmoreciam as brasas de uma lenha aromática. Entre aqueles verdes reluzia, por sobre peanhas e pedestais, toda uma Máquina sumptuosa, aparelhos, lâminas, rodas, tubos, engrenagens, hastes, friezas, rigidezas de metais...
Mas Jacinto batia nas almofadas do divã, onde se enterrara com um modo cansado que eu não lhe conhecia:
- Para aqui, Zé Fernandes, para aqui! E necessário reatarmos estas nossas vidas, tão apartadas há sete anos!... Em Guiães, sete anos! Que fizeste tu?
- E tu, que tens feito, Jacinto? O meu amigo encolheu molemente os ombros. Vivera cumprira com serenidade todas as funções, as que pertencem à matéria e as que pertencem ao espírito...
- E acumulaste civilização, Jacinto! Santo Deus... Está tremendo, o 202! Ele espalhou em torno um olhar onde já não faiscava a antiga vivacidade: - Sim, há confortos... Mas falta muito! A humanidade ainda tá mal apetrechada, Zé Fernandes... E a vida conserva resistência.
Subitamente, a um canto, repicou a campainha do telefone. E quanto o meu amigo, curvado sobre a placa, murmurava impaciente «Está lá? - Está lá?», examinei curiosamente, sobre a sua imensa mesa de trabalho, uma estranha e miúda legião de instrumentozinhos de níquel, de aço, de cobre, de ferro, com gumes, com argolas, com tenazes, com ganchos, com dentes, expressivos todos, utilidades misteriosas. Tomei um que tentei manejar - e logo a ponta malévola me picou um dedo. Nesse instante rompeu dentro canto um «tic-tic-tic» açodado, quase ansioso. Jacinto acudiu, com a face no telefone:
- Vê aí o telégrafo!... Ao pé do divã. Uma tira de papel que deve estar a correr. E, com efeito, de uma redoma