.. Que impotência, que impotência! Pela segunda vez, este desastre! E agora, aparelhos perfeitos, um processo novo...
- E eu encharcado por esse processo novo! E sem outra casaca! Em redor, as nobres sedas bordadas, os brocatéis Luís XIII, cobertos de manchas negras, fumegavam. O meu Príncipe, enfiado, enxugava uma fotografia de Madame d'Oriol, de ombros decotados, que o jorro bruto maculara de empolas. E eu, com rancor, pensava que na minha Guiães a água aquecia em seguras panelas - e subia ao meu lavatório, pela mão forte da Catarina, em seguras infusas! Não jantámos com o duque de Marizac no Clube. E, na ópera, nem saboreei Lohengrin e a sua branca alma e o seu branco cisne e as suas brancas armas - entalado, aperreado, cortado nos sovacos pela casaca que Jacinto me emprestara e que rescendia estonteadoramente a flores de Nessari.
No domingo, muito cedo, o Grilo, que na véspera escaldara as mãos e as trazia embrulhadas em seda, penetrou no meu quarto, descerrou as cortinas, e à beira do leito, com o seu radiante sorriso de preto:
- Vem no «Figaro»! Desdobrou triunfalmente o jornal. Eram, nos «Ecos», doze linhas, onde as nossas águas rugiam e espadanavam, com tanta magnificência e tanta publicidade, que também sorri, deleitado.
- E toda a manhã, o telefone, siô Fernandes! - exclamava o Grilo, rebrilhando em ébano. - A quererem saber, a quererem saber... «Está lá? Está escaldado?», Paris aflito, siô Fernandes!
O telefone, com efeito, repicava, insaciável. E quando desci para o almoço, a toalha desaparecia sob uma camada de telegramas, que o meu Príncipe fendia com a faca, enrugado, rosnando contra a «maçada». Só desanuviou, ao ler um desses papéis azuis, que atirou para cima do meu prato, com o mesmo sorriso agradado com que de manhã sorríramos, o Grilo e eu: É do grão-duque Casimiro.