.. Eu voltei ao meu café, felicitando mentalmente o Príncipe da Grã-Ventura por aquela perfeita flor de Civilização que lhe perfumava a vida. Pensei então na apurada harmonia em que se movia essa flor. E corri vivamente à antecâmara, verificar diante do espelho o meu penteado e o nó da minha gravata. Depois recolhi à sala de jantar, e junto da janela, folheando languidamente a «Revista do Século XIX», tomei uma atitude de elegância e de alta cultura. Quase imediatamente eles reapareceram: e Madame d'Oriol, que, sempre sorrindo, se proclamava espoliada, nada encontrara que recordasse as águas furiosas, roçou pela mesa, onde Jacinto procurava, para lhe oferecer, tangerinas de Malta, ou castanhas geladas, ou um biscoito molhado em vinho de Tokai.
Ela recusava com as mãos guardadas no regalo. Não era alta, nem forte - mas cada prega do vestido, ou curva da capa, caía e ondulava harmoniosamente, como perfeições recobrindo perfeições. Sob o véu cerrado, apenas percebi a brancura da face empoada, e a escuridão dos olhos largos. E com aquelas sedas e veludos negros, e um pouco do cabelo louro, de um louro quente, torcido fortemente sobre as peles negras que lhe orlavam o pescoço, toda ela derramava uma sensação de macio e de fino. Eu teimosamente a considerava como uma flor de Civilização: - e pensava no secular trabalho e na cultura superior que necessitara o terreno onde ela tão delicadamente brotara, já desabrochada, em pleno perfume, mais graciosa por ser flor de esforço e de estufa, e trazendo nas suas pétalas um não sei quê de desbotado e de ante murcho.
No entanto, com a sua volubilidade de pássaro, chalrando para mim, chalrando para Jacinto, ela mostrava o seu lindo espanto por aquele montão de telegramas sobre a toalha.
- Tudo esta manhã, por causa da inundação?.