das orquídeas mereceu os louvores ruidosos de Sua Alteza, fiquei entre o etéreo poeta Dornan e aquele rapaz de, penugem loura que balouçava como uma espiga ao vento. Depois de desdobrar o guardanapo, de o acomodar regaladamente sobre os joelhos, Dornan desenvencilhou da corrente do relógio uma enorme luneta para percorrer o menu - que aprovou. E inclinando para mim a sua face de apóstolo obeso:
- Este Porto de 1834, aqui em casa de Jacinto, deve ser autêntico... hem? Assegurei ao Mestre dos Ritmos que o Porto envelhecera nas adegas clássicas do avô «Galeão». Ele afastou, numa preparação metódica, os longos, densos fios do bigode que lhe cobriam a boca grossa. Os escudeiros serviram um consommé frio com trufas. E o rapaz cor de milho, que espalhara pela mesa o seu olhar azul e doce, murmurou, com uma desconsolação risonha:
- Que pena!... Só falta aqui um general e um bispo! Com efeito! Todas as Classes Dominantes comiam nesse momento as trufas do meu Jacinto... Mas defronte Madame d'Oriol lançara um riso mais cantado que um gorjeio. O grão-duque, numa silva de orquídeas que orlava o seu talher, notara uma, sombriamente horrenda, semelhante a um lacrau esverdinhado, de asas lustrosas, gordo e túmido de veneno: e muito delicadamente ofertara a flor monstruosa a Madame d'Oriol, que, com trinado riso, solenemente, a colocou no seio. Colado àquela carne macia, de uma brancura de nata fina, o lacrau inchara, mais verde, com as asas frementes. Todos os olhos se acendiam, se cravavam no lindo peito, a que a flor disforme, de cor veneno s a, apimentava o sabor. Ela reluzia, triunfava. Paraajeitar melhor a orquídea os seus dedos alargaram o decote, aclararam belezas, guiando aquelas curiosidades flamejantes que a despiam. A face vincada de Jacinto pendia para o prato vazio.