A Cidade e as Serras - Cap. 4: CAPÍTULO IV Pág. 57 / 238

Marizac nosso íntimo, surgiu também, risonho, propondo uma descida ao poço com escadas. Depois foi o psicólogo, que se abeirou, psicologou, atribuindo intenções sagazes ao peixe que assim se recusava. E a cada um o grão-duque, escarlate, mostrava com dedo trágico, no fundo da cova, o seu peixe! Todos afundavam a face, murmuravam: «Lá está!» Todelle, na sua precipitação, quase se despenhou. O periquito descendente de Coligny batia as asas, ganindo: - Que cheiro ele deita, que delícia! - Na copa atulhada os decotes das senhoras roçavam a farda dos lacaios. O velho caiado de pó de arroz meteu o pé num balde de gelo, com um berro ferino. E o historiador dos duques d'Anjou movia por cima de todos o seu nariz bicudo e triste.

De repente, Todelle teve uma ideia: - É muito simples... É pescar o peixe! O grão-duque bateu na coxa uma palmada triunfal. Está claro! Pescar o peixe! E no gozo daquela facécia, tão rara e tão nova, toda a sua cólera se sumira, de novo se tornara o príncipe amável, de magnífica polidez, desejando que as senhoras se sentassem para assistir à pesca miraculosa! Ele mesmo seria o pescador! Nem se necessitava, para a divertida façanha, mais que uma bengala, uma guita e um gancho. Imediatamente Madame d'Oriol, excitada, ofereceu um dos seus ganchos. Apinhados em volta dela, sentindo o seu perfume, o calor da sua pele, todos exaltámos a amorável dedicação. E o psicólogo proclamou que nunca se pescara com tão divino anzol!

Quando dois escudeiros estonteados voltaram, trazendo uma bengala e um cordel, já o grão-duque, radiante, vergara o gancho em anzol. Jacinto, com uma paciência lívida, erguia uma lâmpada sobre a escuridão do poço fundo. E os senhores mais graves, o historiador, o diretor do «Boulevard», o conde de Trèves, o homem de cabeça à Van Dick, sorriam, amontoados à porta, num interesse reverente pela fantasia de Sua Alteza.





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