na sua luta contra a Força e a Matéria! - E esse fastio não o escondeu mais do seu velho Zé Fernandes, quando recomeçou entre nós a comunhão de vida e de alma a que eu tão torpemente me arrancara, uma tarde, diante da estação dos ónibus, no charco da Madalena.
Não eram certamente confissões enunciadas. O elegante e reservado Jacinto não torcia os braços, gemendo: «Oh vida maldita!» Eram apenas expressões saciadas; um gesto de repelir com rancor a importunidade das coisas; por vezes uma imobilidade determinada, de protesto, no fundo de um divã, donde se não desenterrava, como para um repouso que desejasse eterno; depois os bocejos, os ocos bocejos com que sublinhava cada passo, continuado por fraqueza ou por dever iniludível; e sobretudo aquele murmurar que se tornara perene e natural: «Para quê?» - «Não vale a pena!» - «Que maçada!...»
Uma noite no meu quarto, descalçando as botas, consultei o Grilo: - Jacinto anda tão murcho, tão corcunda... Que será, Grilo? O venerando preto declarou com uma certeza imensa: - Sua Excelência sofre de fartura. Era fartura! O meu Príncipe sentia abafadamente a fartura de Paris: - e na Cidade, na simbólica Cidade, fora de cuja vida culta e forte (como ele outrora gritava, iluminado) o homem do século XIX nunca poderia saborear plenamente a «delícia de viver», ele não encontrava agora forma de vida, espiritual ou social, que o interessasse, lhe valesse o esforço de uma corrida curta numa tipoia fácil. Pobre Jacinto! Um jornal velho, setenta vezes relido desde a Crónica até aos Anúncios, com a tinta delida, as dobras roídas, não enfastiaria mais o Solitário, que sê possuísse na sua Solidão esse alimento intelectual, do que o Parisianismo enfastiava o meu doce camarada! Se eu nesse Verão capciosamente