Esta resposta do aluno está na base da profundidade sofisticada atribuída a Rochefaucauld, a La Bougive, a Maquiavel e a Campanella.
- E a identificação - disse eu - do intelecto do raciocinador com o do adversário depende, se te compreendi bem, da exactidão com que é avaliado o espírito do opositor?
- Quando ao seu valor prático, depende realmente disso - respondeu Dupin. - E o prefeito e os seus companheiros falham tão frequentemente, primeiro porque lhes falta essa identificação e segundo porque avaliam mal ou, melhor, não avaliam o intelecto com que se defrontam. Têm em conta apenas as suas próprias ideias de astúcia; e, ao procurarem qualquer coisa escondida, procuram apenas onde eles próprios a esconderiam. Há um ponto em que têm razão, é que o seu engenho é uma representação fiel do engenho das massas; mas quando a astúcia do malfeitor é de um género diferente da sua, é claro que o malfeitor os deva à certa». Isto nunca falha• quando o malfeitor é mais fino que eles e falha raramente quando é menos. Eles nunca variam de métodos de investigação; no máximo, quando pressionados por qualquer emergência fora do vulgar (alguma recompensa extraordinária), aumentam ou exageram os seus velhos métodos sem tocar nos princípios. O que é que, por exemplo, neste caso de D... , foi feito para variar o princípio da acção? Que são todas essas perfurações, essas buscas, essas sondagens, esses exames ao microscópio? Que é essa divisão do prédio em centímetros quadrados, se não o exagero da aplicação de um princípio ou conjunto de princípios de investigação baseados num conjunto de noções respeitante à astúcia humana a que o prefeito, pela longa rotina da sua função, está acostumado? Não viste que ele dá como certo que toda a gente esconde uma carta, não forçosamente num buraco aberto à broca num pé de cadeira, mas pelo menos num qualquer buraco ou num canto fora de mão sugerido pelo mesmo tipo de pensamento que leva uma pessoa a esconder uma carta num buraco aberto à broca num pé de cadeira?
