Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 1: Ligeia

Página 13
Não pude deixar de aperceber-me de que a minha esposa temia a feroz melancolia do meu temperamento, de que se esquivava de mim e apenas me amava um pouco; mas isso causava-me mais prazer do que outra coisa. Abominava-a com ódio mais próprio de um demónio que de um homem. A memória transportava-me (oh, com que pesada mágoa!) a Ligeia, a bem-amada, a augusta, a bela, a sepultada Ligeia. Deliciava-me no recordar da sua pureza, do seu saber, da sua natureza sublime, etérea, do seu amor apaixonado, idolátrico. Agora, o meu espírito ardia total e livremente com uma chama superior ainda à dela. Na excitação dos meus sonhos de opiómano (visto que me tornara prisioneiro habitual da droga), chamava-a pelo nome em voz alta, no silêncio da noite, ou entre os recessos abrigados dos vales durante o dia, como se, através da ânsia incontida, da paixão solene, doar dor que me consumia de saudades da desaparecida, pudesse devolvê-la ao trilho que abandonara - ah, seria possível que para sempre? - na terra. No início do nosso segundo mês de casados, Lady Rowena foi acometida de uma súbita doença da qual tardava em restabelecer-se. A febre que a consumia dava-lhe noites agitadas; e, num perturbado estado de semi-sonolência, falava de sons e de movimentos, dentro e fora do quarto do torreão, que concluí não terem outra origem que não fosse a sua imaginação alterada, ou porventura as fantasmagóricas aparências do próprio quarto. Por fim entrou em convalescença e acabou por curar-se. Contudo, passado apenas algum tempo, sobreveio uma segunda enfermidade mais violenta, que novamente a prostrou no leito de sofrimento; e deste ataque a sua constituição, que sempre fora débil, nunca se recompôs completamente. As suas doenças eram, após esse período, de natureza alarmante e de reincidência mais alarmante ainda, desafiando quer a ciência quer os denodados esforços dos seus médicos.

<< Página Anterior

pág. 13 (Capítulo 1)

Página Seguinte >>

Capa do livro Ligeia
Páginas: 20
Página atual: 13

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Ligeia 1