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Capítulo 1: Ligeia

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As sobrancelhas, de contorno levemente irregular, eram do mesmo matiz. No entanto, a «singularidade» que eu encontrava nos olhos era independente da forma, da cor ou do brilho dos traços, e devia, sim, reportar-se à expressão. Ah, palavra sem significado, atrás da vasta latitude de cujo som entrincheiramos a nossa ignorância sobre tanto do que é espiritual! A expressão dos olhos de Ligeia! Quão longas horas meditei sobre ela! Como me esforcei, ao longo de toda uma noite de Verão, por sondá-la! O que era - esse algo mais profundo do que o poço de Demócrito - que existia dentro das pupilas da minha amada? Que era? Sentia-me possuído pela paixão da descoberta. Aqueles olhos! Aquelas enormes, brilhantes, divinas pupilas! Tornaram-se para mim estrelas gémeas de Leda, e eu para elas o mais devoto dos astrólogos. Não há questão, entre as muitas anomalias incompreensíveis da ciência do espírito, mais empolgantemente excitante do que o facto - nunca notado, creio, nas escolas - de, nos nossos esforços para trazer à lembrança algo há muito esquecido, nós acharmos frequentemente mesmo à beira da recordação, sem no final sermos capazes de recordar. Assim, quantas vezes, na minha intensa perscrutação dos olhos de Ligeia, quantas vezes senti a proximidade do conhecimento total da sua expressão, o senti avizinhar-se - embora não possuindo-o - e do mesmo modo acabar por dissipar-se! E (oh, estranho mistério, de todos o mais estranho) deparou-se-me, nos mais vulgares objectos do universo, um círculo de analogias com aquela expressão. Quero dizer que, a partir do momento em que a beleza de Ligeia penetrou no meu espírito, e passou a habitá-lo como um santuário, muitas existências do mundo material passaram a suscitar em mim um sentimento tal como o que sempre experimentei à vista das suas enormes e luminosas pupilas.

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Capa do livro Ligeia
Páginas: 20
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Os capítulos deste livro:
Ligeia 1