O Escaravelho de Ouro - Cap. 1: O escaravelho de ouro Pág. 10 / 38

Esse escaravelho há-de restaurar a minha fortuna - continuou, com um sorriso triunfante. - Há-de devolver-me os bens da minha família. Será, pois, de espantar que o tenha em tanto apreço? Visto que a Fortuna achou por bem conceder-mo, nada mais tenho a fazer senão usá-lo convenientemente e ele indicar-me-á o caminho do ouro. Júpiter, traz-me o escaravelho.

- O quê? O esca'avelho, Massa? Não que'o mexe' nesse bicho. Se o quise' tem de i' o senho' buscá-lo.

Ao ouvir isto, Legrand levantou-se e foi buscar o escaravelho a uma caixa de vidro onde estava guardado. Era um belo exemplar nessa época ainda desconhecido dos naturalistas - evidentemente de um grande valor do ponto de vista científico. Tinha duas manchas negras e redondas numa das extremidades e uma sobre o comprido na outra ponta. Os élitros eram duros e brilhantes e tinham todo o aspecto do ouro brunido. O insecto era estranhamente pesado e, tomando todas estas coisas em consideração, não podia admirar-me da opinião de Júpiter; o que não podia compreender era que Legrand concordasse com esta opinião.

- Mandei-te chamar - disse ele, num tom grandiloquente, quando acabei de examinar o escaravelho -, mandei-te chamar para que me dês o teu conselho e assistência a fim de cumprir a missão que o Destino e o escaravelho...

- Meu caro Legrand - exclamei, interrompendo-o -, estás doente e devias tomar certas precauções. Vais para a cama e eu fico aqui contigo, até estares melhor. Tens febre e...

- Toma-me o pulso - disse ele.

Assim fiz e, para falar com franqueza, não encontrei o menor indício de febre.

- Mas podes estar doente sem ter febre. Deixa-me, desta vez, cuidar de ti. Em primeiro lugar vais meter-te na cama. Depois...

- Estás enganado - interrompeu-me ele -, estou tão bem quanto se pode esperar, tendo em conta o estado de excitação em que me encontro.





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