O Escaravelho de Ouro - Cap. 1: O escaravelho de ouro Pág. 9 / 38

Tive medo que a pressão contínua do infortúnio tivesse, finalmente, perturbado a razão do meu amigo. Foi por isso que, sem um momento de hesitação, me prepararei para acompanhar o negro.

Ao chegar ao cais reparei que, no fundo do barco onde Íamos entrar, se encontrava uma foice e três pás, tudo aparentemente novo em folha.

- Que significa isto, Jup?

- A foice dele, Massa, e as pás.

- Isso vejo eu. Mas que estão a fazer aqui?

- Massa Will mandou-me cornp'a' na cidade a foice e as pás e custa'am-me um dinhei'o dos diabos.

- Mas em nome de todos os mistérios, para que raio quer o teu Massa Will a foice e as pás?

- Isso já eu não sei e 'aios me pa'tam se ele sabe mais que eu. Mas é tudo po' causa do esca' avelho.

Concluindo que nada poderia vir a saber por Júpiter, cujo espírito parecia estar completamente dominado pelo «esca' avelho», entrei no barco e icei a vela. Uma brisa forte e de feição levou-nos rapidamente até à pequena baía a norte de Forte Moultrie e ao fim de uma caminhada de cerca de duas milhas chegámos à cabana. Deviam ser umas três horas da tarde. Legrand esperava-nos ansiosamente. Apertou-me a mão com uma veemência nervosa que me alarmou e reforçou as suspeitas que já tinha. O seu rosto tinha uma palidez espectral e os olhos encovados brilhavam com uma luz sobrenatural. Depois de o ter interrogado sobre a sua saúde, perguntei-lhe, à falta de outra coisa, se o tenente já lhe tinha entregue o escaravelho.

- Oh, sim - respondeu, corando violentamente. - Entregou-mo na manhã seguinte. Nada neste mundo me levaria a separar-me do escaravelho. Sabes que o Júpiter tinha razão?

- Razão em quê? - perguntei com um triste pressentimento no coração.

- Em supor que o escaravelho era de ouro verdadeiro - disse ele, com um ar de profunda seriedade que me deixou terrivelmente preocupado.





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