Digo que a singularidade da coincidência me deixou por momentos estupefacto. É o efeito vulgar das coincidências. O espírito tenta estabelecer uma relação, uma sequência de causa e efeito, e, incapaz de o fazer, sofre uma espécie de paralisia temporária. Mas quando recuperei deste assombro comecei a vislumbrar uma solução que me assombrou ainda mais que a coincidência. Lembrei-me com uma certeza absoluta de que não existia qualquer desenho no pergaminho quando fiz o esboço do escaravelho. Disto não tinha a menor dúvida porque voltara o pergaminho de um lado e do outro à procura do espaço mais limpo. Se a caveira lá estivesse não podia deixar de reparar nela. Estava aqui realmente um mistério que me parecia impossível explicar; mas já nessa altura me brilhava no mais recôndito do cérebro uma pequena luz da verdade que a descoberta de ontem à noite veio confirmar tão magnificamente. Levantei-me imediatamente e, guardando o pergaminho em lugar seguro, decidi não pensar mais no assunto até me encontrar sozinho.
»Depois de teres partido e quando Júpiter já dormia, dediquei-me a uma investigação mais profunda do assunto. Em primeiro lugar considerei a maneira como o pergaminho me havia chegado às mãos. O local onde encontrara o escaravelho situava-se perto da praia do continente, a cerca de uma milha para leste da ilha e a pequena distância da linha de água. Depois de o ter apanhado, o bicho mordeu-me e eu deixei-o cair. Júpiter, com a sua habitual prudência, antes de pegar no insecto que voara até junto dele, olhou em volta à procura de uma folha ou de algo parecido com que pudesse agarrá-lo. Foi então que reparou, e eu também, no pedaço de pergaminho que na altura julgámos ser papel. Estava meio enterrado na areia com uma ponta de fora.
