Esta reflexão levou-me a crer que havia um significado especial na caveira. Também não deixei de notar a forma do pergaminho. Embora um dos cantos estivesse rasgado, via-se que fora originalmente rectangular. Era realmente uma dessas tiras que se usam quando se quer apontar e guardar muito tempo algo de importante.
- Mas - interrompi eu - disseste que não existia caveira nenhuma quando desenhaste o escaravelho. Então como é que podes estabelecer uma relação entre o barco e a caveira, uma vez que esta, como tu próprio admites, deve ter sido desenhada (Deus sabe como e por quem) depois de teres feito o esboço do escaravelho?
- Ah, aí é que residia todo o mistério; apesar disso pouca dificuldade tive em resolvê-lo. Os passos que dei foram seguros e só podiam conduzir a um único resultado. Ora vê como raciocinei: quando desenhei o escaravelho não se via qualquer caveira no pergaminho. Após terminar o meu desenho entreguei-to e não deixei de te observar até que tu mo voltaste a entregar. Portanto tu não desenhaste a caveira, nem havia mais ninguém presente que o pudesse fazer. Esse desenho não fora feito por mão humana e no entanto ali estava ele!
»Neste ponto das minhas reflexões esforcei-me por recordar, e recordei, realmente, todos os incidentes ocorridos durante o período em questão. O tempo estava frio (oh!, raro e feliz acidente) e o lume aceso. Aquecido pelo exercício que acabara de fazer, fui sentar-me à mesa. Mas tu instalastes-te junto do fogo. No momento em que te entreguei o pergaminho e em que ias examiná-lo, Wolf, o terra-nova, entrou e saltou-te aos ombros. Acariciaste-o com a mão esquerda e a direita, que segurava o pergaminho, pousaste-a negligentemente entre os joelhos, muito perto do fogo. A dada altura pensei que a labareda ia atingi-lo e ia avisar-te, mas, antes de eu poder falar, tu retiraste a mão e puseste-te a analisar o documento.
