O Poço e o Pêndulo - Cap. 1: O poço e o pêndulo Pág. 10 / 20

Também me enganara quanto à forma da cela. Ao tactear o caminhe encontrara muitos ângulos, ficando assim com a ideia de uma grande irregularidade; tão forte é o efeito da escuridão total para quem acorda da letargia ou do sono! Os ângulos eram simplesmente os de algumas depressões ou nichos situados a intervalos irregulares. A forma da prisão era um quadrado. Aquilo que eu tomara por pedra parecia agora ser ferro ou outro metal em grandes placas cujas suturas ou juntas ocasionavam as depressões A superfície inteira desta estrutura metálica estava grosseiramente pintada com os emblemas hediondos e repelentes que a superstição sepulcral dos monges deu à luz. As imagens de demónios com ares ameaçadores e formas de esqueleto e outras imagens mais reais e aterradoras desfiguravam as paredes em toda a sua extensão. Reparei que os contornos destas monstruosidades eram bastante nítidos, enquanto as cores pareciam desbotadas e esborratadas como se tivessem sofrido os efeitos da atmosfera húmida, Reparei então no chão, que era de pedra. No seu centro abria-se a boca de poço circular, a cujas mandíbulas eu escapara; mas só havia um na masmorra,

Vi tudo isto indistintamente e com muito esforço: porque a minha situação se alterara muito durante o sono. Estava agora estendido, deitado de costas, numa espécie de cavalete baixo de madeira. Estava aí solidamente amarrado com uma coisa que parecia uma correia. Esta enrolava-se vária, vezes à volta dos meus membros e corpo, deixando-me apenas livre a cabeça e o braço esquerdo; mas só à força de muitas contorções conseguia chegar à comida, colocada no chão ao meu lado num prato de barro. Vi correr grande horror que o jarro desaparecera. Digo com grande horror porque uma sede intolerável me devorava.





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