O Poço e o Pêndulo - Cap. 1: O poço e o pêndulo Pág. 19 / 20

O calor aumentava rapidamente e ergui novamente os olhos, tremendo como num acesso de febre. Uma segunda mudança operara-se na cela e agora a mudança era obviamente na forma. Como antes, foi em vão que a princípio tentei compreender ou apreciar o que estava a acontecer. Mas a dúvida não durou muito tempo. A vingança da Inquisição fora derrotada duas vezes pela minha imaginação e haviam-se acabado os jogos com o Rei dos Terrores. A cela tinha sido quadrada. Vi que dois dos seus ângulos de ferro eram agora agudos - os outros dois consequentemente obtusos. A temível diferença aumentava rapidamente com um ruído surdo, uma espécie de gemido. A forma da sala transformara-se em instantes num losango. Mas a alteração não parou aí - nem eu esperava nem desejava que parasse. Teria aplicado contra o peito as paredes incandescentes como se fossem um vestido de paz eterna.

«Morte», dizia eu, «qualquer morte menos a do poço!» Louco! Não sabia eu que lançar-me ao poço era o objectivo do ferro ardente? Poderia eu resistir ao seu ardor? Ou, se tal fosse possível, poderia suportar a sua pressão? E agora o losango apertava-se cada vez mais com uma rapidez que não deixava tempo a qualquer reflexão. O seu centro colocado sobre a linha de maior largura coincidia precisamente com a boca escancarada do poço. Recuei - mas as paredes empurravam-me irresistivelmente para a frente.

Chegou finalmente o momento em que já não havia um centímetro de sala firme onde apoiar o meu corpo queimado e torcido. Deixei de lutar, mas a agonia da minha alma exalou-se num grito de desespero, alto, longo e final. Senti que tropeçava na borda do poço - desviei os olhos...

Houve um ruído discordante de vozes humanas! Uma explosão de muitas trombetas! Um rugido como de um milhão de trovões! As paredes ardentes recuaram precipitadamente! Um braço estendido agarrou o meu no momento em que, desmaiado, eu caía no abismo.





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