O Poço e o Pêndulo - Cap. 1: O poço e o pêndulo Pág. 18 / 20

Tentei, inutilmente é claro, espreitar pela abertura.

Ao pôr-me de novo em pé, o mistério da alteração do quarto revelou-se subitamente ao meu espírito. Reparara que, embora os contornos das imagens nas paredes fossem suficientemente nítidos, as cores eram desbotadas e indefinidas. Estas cores adquiriam agora um brilho estranho e mais intenso, que dava às imagens espectrais e assustadoras um aspecto que devia ter feito tremer nervos bem mais sólidos que os meus. Olhos demoníacos, de uma vivacidade feroz e sinistra, fitavam-me de mil direcções diferentes, onde antes nada se via, e cintilavam com o brilho lúgubre de um fogo que me era impossível considerar como irreal.

Irreal!- Bastava-me respirar para que me chegasse às narinas o vapor do ferro aquecido. Um cheiro sufocante invadira a prisão. O brilho dos olhos que contemplavam os meus tormentos era cada vez mais intenso. Um tom mais rico de carmim espalhou-se sobre as horríveis imagens sangrentas! Eu arfava! Respirava com dificuldade! Não podia haver dúvidas acerca dos desígnios dos meus carrascos. Oh!, impiedosos! Oh!, os mais demoníacos dos homens! Afastei-me do metal ardente recuando até ao centro da cela. Perante a horrível destruição pelo fogo que me esperava a frescura do poço aparecia ao meu espírito como um bálsamo. Atirei-me para a sua borda mortal. Os meus olhos cansados fitaram o fundo. A luz do tecto em brasa penetrava nos seus mais íntimos recônditos. Porém, durante alguns instantes o meu espírito recusou-se a compreender o significado do que via. Finalmente esse significado penetrou no meu espírito - imprimiu-se como um ferro em brasa na minha razão tremente. Oh!, uma voz para falar. Oh!, horror! Oh!, qualquer horror menos isto. Com um grito afastei-me da margem, e escondendo o rosto nas mãos chorei amargamente.





Os capítulos deste livro