Uma descida no Maelstrom - Cap. 1: Uma descida no «Maelström» Pág. 2 / 23

profundamente excitado pela perigosa posição do meu companheiro que me espalmei por terra, agarrando-me aos arbustos que me cercavam, e nem sequer me atrevia a erguer o olhar para o céu - ao mesmo tempo que lutava em vão por me libertar da ideia de que a própria base da montanha corria perigo devido à fúria do vento. Só muito mais tarde logrei raciocinar por forma a ganhar coragem para me sentar e olhar ao longe.

- Tem de passar por cima dessas fantasias - disse o guia -, visto que o trouxe aqui para que pudesse ter a melhor perspectiva possível do cenário dos acontecimentos que lhe referi, e para lhe contar toda a história à vista do próprio local.

»Estarmos agora - continuou, do modo minucioso que o caracterizava -, estamos agora mesmo sobre a costa da Noruega, nos sessenta e oito graus de latitude, na grande província de Nordlanda e no lúgubre distrito de Lofoten. A montanha em cujo cume nos encontramos chama-se Helseggen, a Enevoada. Agora erga-se um pouco mais; agarre-se à erva, se sentir vertigens... isso..., e olhe para além da cintura de vapor que temos abaixo, para o mar.

Observei, entontecido, e vi uma vasta extensão de oceano, cujas águas tinham uma tonalidade tão carregada que me trouxeram imediatamente à memória a descrição do Mare Tenebrarum feita pelo geógrafo núbio. É impossível a qualquer imaginação humana conceber panorama mais deploravelmente desolador. À direita e à esquerda, até onde a vista alcançava, estendiam-se, como muralhas do mundo, linhas de uma falésia espantosamente negra e saliente, cujo carácter lúgubre era ainda mais violentamente realçado pela rebentação que se erguia alterosamente de encontro a ela com a sua branca e fantasmagórica crista, rugindo e bramindo sem cessar.





Os capítulos deste livro