Uma descida no Maelstrom - Cap. 1: Uma descida no «Maelström» Pág. 8 / 23

assim, quanto mais a maré sobe, mais profunda é a queda, sendo o natural resultado de tudo isto um turbilhão ou vórtice cuja prodigiosa sucção é suficientemente conhecida através de exemplos menores». São estes os termos da Enciclopaedia Britannica. Kircher e outros imaginam que no centro do canal do maelström existe um abismo que atravessa o globo de lado a lado, desembocando em qualquer região muito longínqua - tendo num caso chegado a ser indicado, de modo um tanto categórico, o golfo de Bótnia. Esta opinião, que em si não dispunha de fundamento, era precisamente aquela que, ao observar a cena, a minha imaginação mais pronta se sentia a aceitar; e, ao mencioná-la ao meu guia, surpreendeu-me ouvi-lo dizer que, embora fosse a convicção quase universalmente compartilhada pelos Noruegueses sobre o assunto, não era a sua. Quanto à noção anterior, confessou a sua incapacidade de a compreender; e neste ponto concordei com ele, pois, por mais concludente que seja no papel, torna-se totalmente ininteligível, e mesmo absurda, no meio do ribombar do abismo.

- Agora que já viu bem o turbilhão - disse o velho -, se rastejar em torno desta rocha até se colocar a sotavento, de modo a abafar o ruído das águas, vou contar-lhe uma história que o convencerá de que alguma coisa hei-de saber acerca do moskoe-ström.

Coloquei-me conforme pretendia, e ele prosseguiu:

- Eu e os meus dois irmãos tivemos em tempos uma sumaca com armação de escuna, de umas setenta toneladas, com a qual costumávamos ir à pesca entre as ilhas para lá de Moskoe, quase até Vurrgh. Todos os remoinhos violentos de mar trazem boa pescaria, nas ocasiões apropriadas e desde que se tenha a coragem de tentar a aventura; porém, de todos os homens da costa de Lofoten, nós os três éramos os únicos que nos dedicávamos ao mister regular de ir até às ilhas, como lhe digo.





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