Capítulo 20: Capítulo 20
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A estrutura das cenas e as imagens contemplativas externam sabedoria mais profundo, do que a que pode ser externada pelo poeta em palavras e conceitos. Pode-se observar o mesmo em Shakespeare, cujo Hamlet, por exemplo, se expressa, num sentido semelhante, mais profundamente do que age, de maneira a podermos deduzir aqueles preceitos de Hamlet atrás mencionados, não pelas palavras, mas sim pela apreciação e contemplação mais profunda do todo. No concernente à tragédia grega, que se apresenta como um drama oral, indiquei mesmo que aquela incongruência entre mito e palavra poder-nos-ia facilmente conduzir ao erro de julgá-la mais fútil e insignificante do que ela realmente é, presumindo, por isso, também um efeito mais superficial, do que ela deve ter tido, segundo o testamento dos antigos; pois quão depressa é esquecido que, o que não conseguiu o poeta oral, atingir a mais elevada espiritualização e idealização do mito, poderia consegui-lo a qualquer momento como músico criador! Devemos reconstruir a supremacia do efeito musical por via quase erudita, a fim de receber um pouco daquele consolo incomparável, que deve ser próprio da tragédia verdadeira. Mesmo esta supremacia musical teríamos sentido somente como tal, se fôssemos gregos; enquanto que nós, em todo desenvolvimento da música grega, — de nós conhecida e familiar e tão imensamente mais rica se a compararmos com a nossa — somente cremos ouvir uma canção juvenil, do gênio musical, entoada num tímido sentimento de força. Os gregos são, como dizem os sacerdotes egípcios, as eternas crianças, sendo também na arte trágica as crianças, que não sabem que brinquedo sublime se originou em suas mãos — e nelas será destruído.
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