Se heróis, como Schiller e Goethe, não conseguiram arrombar aquela porta encantada que leva à encantada montanha helênica; se, apesar de seu corajoso esforço, não conseguiram passar além daquele olhar ansioso, que a Ifigênia de Goethe lança no Tauris bárbaro à pátria, por sobre o mar, qual a esperança que restaria aos epígonos de tais heróis, se não se abrisse repentinamente, por si, num lado ainda não tocado pelos esforços da cultura atual, a porta — sob o soar místico da re-despertada música de tragédia?
Que ninguém tente diminuir a nossa crença em um futuro renascimento da antiguidade helênica; pois somente nela encontramos as esperanças para uma renovação e purificação do gênio alemão pelo encanto de fogo da música. Saberíamos enumerar algo mais que, na desolação e no cansaço da cultura atual, nos despertaria quaisquer esperanças consoladoras para o futuro? Debalde procuramos uma raiz fortemente ramificada, um pedaço de terra fértil e sã; somente encontramos pó, areia, entorpecimento, consumação. Nesta situação não poderia um indivíduo, isolado inconsolavelmente, escolher um símbolo melhor do que o cavaleiro acompanhado da morte e do diabo, como foi desenhado por Dürer; o cavaleiro armado, com o olhar brônzeo, duro, que sabe tomar seu caminho de desgraças sem se perturbar com a presença do companheiro horrível, apesar de desesperançado, sozinho com ginete e cão. Tal cavaleiro düreriano foi o nosso Schopenhauer: toda esperança lhe faltava, mas ele exigia a verdade. Não há quem o iguale.
Mas como se modifica repentinamente o deserto, tão tetricamente descrito, de nossa cultura cansada, quando é tocado pelo encanto dionisíaco! Um vendaval leva todo o inerte, podre, quebrantado, o envolve em vermelha nuvem de poeira e o leva pelos ares, semelhante a um abutre.