Muito ao contrário se robustecem todas as nossas esperanças, ansiosamente, à percepção de que, sob esta vida cultural e sob esta convulsão educacional, se encontre escondida uma força mui antiga, maravilhosa e intimamente sã, que, como é natural, somente em momentos terríveis se move de forma potente, para, depois, novamente sonhar com um futuro despertar. Foi deste abismo que surgiu a reforma alemã, em cujo canto coral ressoaram pela primeira vez as melodias do futuro da música alemã. Tão profundo, valoroso e espiritual, tão infinitamente bom e suave ressoa este canto de Lutero, como o primeiro chamariz dionisíaco, que surge por detrás de arbustos espessos, com o aproximar-se da primavera.
A esse chamariz respondeu, com eco competidor, aquela sagrada e animosa marcha triunfal de entusiastas dionisíacos, aos quais devemos a música alemã — e aos quais deveremos o renascimento do mito alemão!
Sei que devo conduzir, agora, o amigo sensível e que com interesse me seguiu, a um local elevado de considerações isoladas, onde somente encontrará poucos companheiros, e animando-o, lhe digo que devemos manter-nos fiéis a nossos guias luminosos, os gregos. É deles que temos tomado até agora, para purificação de nosso conhecimento estético, aquelas duas imagens divinas, cada uma das quais domina um reino artístico, e de cujas mútuas relações e desenvolvimentos começámos a ter noção, através da tragédia. Em virtude do despedaçar-se, digno de menção, de ambos os impulsos artísticos primitivos, deveria parecer-nos que se havia produzido a ruína da tragédia; tal acontecimento condizia com a degeneração e modificação do caráter popular grego. Deve obrigar-nos este acontecimento a refletirmos sobre a estreita relação existente entre arte e povo, mito e moral, tragédia e estado.