Onde encontramos o “ingênuo” da natureza somos forçados a reconhecer o maior efeito da arte apolínica; que em primeiro lugar tem sempre de vencer um país de Titãs e de matar monstros e que deve ter-se tornado vencedor de profundezas espantosas de considerações sobre o mundo, por meio de fortes e alegres ilusões. Mas quão poucas vezes é alcançada a ingenuidade, o enlace total na formosura da aparência! Como é sublime, por isso, Homero que se porta, frente a esta cultura popular apolínica, como o único artista imaginativo ante a capacidade imaginativa do povo e da natureza em geral. A “ingenuidade” homérica somente pode ser entendida como a completa vitória da ilusão apolínica: é esta uma das ilusões tantas vezes usadas pela Natureza para o alcance de seus propósitos. O fim verdadeiro é coberto por uma imagem ilusória: para esta estendemos as mãos, e aquele a natureza atinge por nosso engano. Junto aos gregos queria-se fitar a “vontade” a si mesma, na transfiguração do gênio e do mundo artístico; para se glorificarem, suas criaturas deviam sentir-se dignas de serem glorificadas, dever-se-iam de ver numa esfera mais elevada, sem que este mundo acabado da contemplação devesse atuar como imperativo ou censura. Esta é a esfera da beleza, em que refletiam suas imagens, os Olímpicos. Com este reflexo de beleza lutou a vontade helênica contra o talento do sofrimento correlativo ao artístico e da sapiência do sofrimento; e como monumento de sua vitória se nos apresenta Homero, o artista ingênuo.