Precisamente este Arquíloco nos assusta, ao lado de Homero, pelo grito de seu ódio e de sua ironia, pelas exclamações viciadas de seus desejos; não será ele, este chamado primeiro artista subjetivo, o verdadeiro anti-artista? Mas então por que a veneração que a ele, ao poeta, tributou, em notáveis expressões o oráculo de Delfos, o centro da arte “objetiva”?
Sobre o processo de seu poetar iluminou-nos Schiller por uma observação psicológica, a ele mesmo inexplicável, mas que não parece duvidosa, pois ele confessa não ter tido, como estado preparatório para o poetar, diante de si nem em si uma série de imagens, com causalidade ordenada de pensamentos, mas sim uma disposição musical! (“Em mim a sensação não tem, inicialmente um objeto claro e determinado. É só mais tarde que este se forma. Uma certa sensação musical de espírito se antepõe, e somente a esta se segue a ideia poética”). Se acrescentarmos agora o fenômeno mais importante de todo o lirismo antigo, que em todos os lugares se apresenta como a união natural, e até mesmo como a identidade do lírico com o músico, em contraposição do qual se nos figura o nosso lirismo mais moderno como uma imagem divina sem cabeça, então podemos com fundamento na nossa metafísica estética, representada anteriormente, explicar-nos de maneira seguinte o lírico: Primitivamente, como artista dionisíaco, se unificou totalmente com o Uno-Primitivo, sua dor e sua contradição e produz a cópia deste Uno-Primitivo como música, mesmo quando esta fora denominada com razão uma repetição do mundo e uma segunda moldagem do mesmo; agora, porém, se lhe torna visível esta música, sob influência do sonho apolínico, como uma visão comparativa do sonho.