A esfera da poesia não está fora do mundo como uma impossibilidade fantástica de um cérebro de poeta; ela quer ser precisamente o contrário, a expressão única da verdade, e é por isso que se deve arremessar para longe o adorno mentiroso daquela suposta verdade do homem civilizado. O contraste desta verdade da natureza propriamente dita e da mentira da civilização, que se comporta como se fosse a única realidade, é parecido com o contraste entre o conjunto das cousas e da cousa em si, e do mundo todo das aparências; e assim como a tragédia, com seu consolo metafísico, indica a vida eterna daquele núcleo da existência, com o desaparecimento contínuo dos fenômenos, assim o simbolismo do coro satírico expressa, num exemplo, aquela relação primitiva entre a cousa em si e a aparição, o fenômeno. Aquele pastor idílico do homem moderno nada mais é senão uma imagem da soma das ilusões de cultura que lhe valem como sendo a Natureza; o grego dionisíaco, querendo a verdade e a Natureza em sua forma suprema, vê-se transformado magicamente em sátiro.
Sob tais disposições e conhecimentos se regozija a turba entusiasmada de servidores de Dionísio, cujo poder se modifica sob seus próprios olhos, de modo a julgarem ser gênios renovados da Natureza, sátiros. A constituição posterior do coro da tragédia é a imitação artística daquele fenômeno natural, na qual se tornou necessária, então, uma separação entre espectadores dionisíacos e transformados dionisíacos. É necessário, porém, que se tenha sempre presente que o público da tragédia ática se reencontrava no coro da orquestra e que não existia, fundamentalmente, posição diversa entre público e coro; pois tudo é um grande e excelso coro de Sátiros dançantes e cantantes ou dos que por estes sátiros se fazem representar.