Aquilo que Sófocles disse de Ésquilo, que ele fazia o que estava direito, apesar de inconscientemente, não foi dito de maneira alguma no sentido de Eurípides; que só diria que Ésquilo, em virtude de trabalhar inconscientemente, produzia o errado. Também o divino Platão fala da faculdade produtiva do poeta e, quando não se trata de introspecção consciente, na maioria das vezes ironicamente, comparando esta faculdade com os dotes do adivinho e do interpretador de sonhos; pois, segundo ele, o poeta não é capaz de compor versos antes de se tornar inconsciente e desprovido de razão. Eurípides empreendeu, como empreendeu também Platão, mostrar ao mundo o oposto do poeta “irrazoável”; sua máxima estética “tudo deve ser consciente para ser belo” é, como já afirmei, a frase paralela ao socrático “tudo deve ser consciente para ser bom”. De acordo com isto, devemos considerar Eurípides como o poeta do socratismo estético. Sócrates, porém, era aquele segundo espectador, que não entendia a tragédia grega antiga, não a considerando por esta razão; aliando-se com ele ousou Eurípides ser o arauto de uma nova produção artística. Se nesta se extinguiu a tragédia antiga, então é o socratismo estético o princípio mortal; na medida, entretanto, em que a luta era dirigida contra o dionisíaco da arte antiga, reconhecemos em Sócrates o adversário de Dionísio, o novo Orfeu, que se levanta contra Dionísio e que, mesmo destinado a ser despedaçado pelas mênades do tribunal ateniense, obriga o deus prepotente à fuga; o qual, como quando fugiu de Licurgo, rei dos Édones, se pôs a salvo nas profundidades do mar, isto é, nas ondas místicas de um culto secreto, que lentamente cobria o mundo inteiro.