Haviam vencido, mas estavam feridos e sangravam. Lentamente, começaram a voltar para a granja. A vista dos camaradas mortos, estirados sobre a relvas comoveu alguns até as lágrimas. E por alguns minutos detiveram-se num triste silêncio no local onde existira o moinho. Sim, ele sumira; fora-se quase todo o seu trabalho. Até os alicerces estavam parcialmente destruídos. E desta vez para reconstruí-lo não bastaria erguer de novo pedras caídas ali mesmo: estas também haviam desaparecido. A força da explosão as arremessara a centenas de metros. Era como se o moinho jamais houvesse existido.
Ao se aproximarem do sítio, Garganta, que estivera inexplicavelmente ausente da luta, veio-lhes ao encontro, sacudindo o rabicho e guinchando de satisfação. E os animais ouviram, da direção da granja, o troar solene da espingarda.
- A troco de quê está atirando aquela arma? - perguntou Sansão.
- Para celebrar nossa vitória! - exclamou Garganta.
- Vitória. Que vitória? - gritou Sansão. Tinha os joelhos sangrando, perdera uma ferradura, rachara o casco e uma dúzia de chumbinhos haviam-se alojado em sua pata traseira.
- Você pergunta que vitória, camarada? Mas então não expulsamos o inimigo do nosso solo, do solo sagrado da Granja dos Bichos?
- Mas eles destruíram o moinho de vento. Nosso trabalho de dois anos!
- Que importa? Construiremos outro moinho de vento. Construiremos meia dúzia de moinhos de vento, se quisermos. Vocês não percebem, camaradas, que coisa formidável realizamos? O inimigo ocupava este mesmo chão em que pisamos. E agora, graças à liderança do Camarada Napoleão, nós o ganhamos centímetro por centímetro!
- Quer dizer, ganhamos o que já era nosso - retrucou Sansão.
- Essa foi a nossa vitória - insistiu Garganta.