AMA
E eu cá [a] esmorecer,
Fazendo mil devações,
470Mil choros, mil orações.
MARIDO
Assi havia de ser...
AMA
Juro-vos que de saudade
Tanto de pão não comia
A triste de mi cada dia.
Doente, era ua piedade.
Já carne nunca a comi:
Esta camisa que trago
Em vossa dita a vesti,
Porque vinha bom mandado.
Onde não há marido
Cuidai que tudo é tristura,
Não há prazer nem folgura;
Sabei que é viver perdido.
Alembrava-vos eu lá?
MARIDO
E como!
AMA
Agora, aramá:
Lá há índias mui fermosas;
Lá faríeis vós das vossas
E a triste de mi cá.
Encerrada nesta casa,
Sem consentir que vizinha
Entrasse por ua brasa,
Por honestidade minha.
MARIDO
Lá vos digo que há fadigas,
Tantas mortes, tantas brigas,
E perigos descompassados,
Que assi vimos destroçados.