Uma noite eterna estende sobre esses desgraçados o sombrio véu das suas trevas. Guarda-os Cerbero, cão de três fauces abrasadas de chamas, que repele e assusta os visitantes. Circe ensinara-nos a palavra sortílega que o doma e escraviza. Por isso, não nos atacou, e pudemos desembarcar, e oferecer aos deuses o carneiro e a ovelha negros, que sacrificámos em sua honra. Ajoelhámos depois, e fizemos as nossas rezas. Mal as acabámos, de todos os lados se erguem sombras e fantasmas que nos rodeiam. Eram os habitantes dos Infernos que nos vinham receber. E entre eles, um antigo companheiro nosso, Elpenor, que tinha morrido no Palácio de Circe, não porque a deusa lhe tivesse feito mal, mas porque, ébrio de vinho que bebera em excesso, caíra do terraço onde adormecera... Chorámos ambos ao tornar-nos a ver, e cheio de saudade lembrei o tempo venturoso em que o tinha junto de mim...
Outras sombras vieram, outras sombras queridas, parentes, amigos, e até a sombra de minha mãe, que deixara viva ao partir para Tróia, que julgava ainda viva, e que ali vinha encontrar, morta e abandonada. Que tristeza, que dor me toma! Ficaria a chorar eternamente, se não aparecesse Tirésias, e eu não fosse obrigado a cumprir o juramento que fizera a Circe.