Os movimentos do andar erguiam por instantes a saia da jovem e deixavam ver acima das botinas a forma de uma perna finamente modelada por uma meia de seda transparente.
Por isso, mais de um transeunte passou adiante do par, a fim de admirar ou tornar a ver o rosto juvenil e moldurado por finos cabelos castanhos, e cuja brancura era realçada tanto pelos reflexos do cetim rosa de seu elegante chapéu como pelo desejo e impaciência que transpareciam no semblante dessa encantadora criatura. Uma doce malícia animava seus belos olhos negros e amendoados, de sobrancelhas bem arqueadas e compridas pestanas. A vida e a mocidade ostentavam os seus tesouros naquele rosto vivido e naquele busto, gracioso ainda, não obstante o cinto então usado sob o peito. Insensível às homenagens, a jovem olhava com uma espécie de ansiedade para o palácio das Tulherias, a meta, sem dúvida, do seu alvoroçado passeio. Faltavam quinze para o meio-dia. Apesar da hora matutina, algumas senhoras, que teriam desejado mostrar- se em lindas toilettes, voltavam do palácio, não sem lhe dirigir um olhar aborrecido, como se estivessem arrependidas de haver chegado demasiado tarde para apreciar um espetáculo almejado. Algumas palavras, que haviam escapado ao mau humor dessas formosas passeantes desapontadas e que a jovem desconhecida ouvira, inquietaram-na sobremodo. O ancião observava, com um olhar mais curioso que zombeteiro, os sinais de impaciência e receio que se refletiam no gracioso rosto da sua companheira, e fazia-o talvez com demasiado cuidado para não se lhe notar qualquer intenção paternal.
Esse domingo era o décimo-terceiro do ano de 1813. Dois dias depois, Napoleão partia para aquela fatal campanha, durante a qual ia perder sucessivamente Bèssieres e Duroc, ganhar as memoráveis batalhas de Lutzen e de Bautzen, ver-se traído pela Áustria, Saxônia, Baviera, por Bernadotte, e disputar a terrível batalha de Leipzig.