- Minha filha - disse com a voz gravemente alterada -, foi mais implacável com sua mãe do que com o homem que ela ofendeu, do que o será Deus talvez!
A senhora d’Aiglemont levantou-se, mas, chegando à porta, voltou-se, e apenas viu surpresa nos olhos da filha saiu da sala e pôde ir até o jardim, onde as forças a abandonaram. Sentiu dores fortíssimas no co ração e caiu sobre um banco. Seus olhos, errando sobre a areia, nela perceberam marcas deixadas pelas botas de um homem, marcas facilmente reconhecíveis. Sem dúvida alguma, sua filha estava perdida. Percebeu o motivo da incumbência dada a Paulina. Essa idéia cruel foi acompanhada de uma revelação mais odiosa ainda. Supôs que o filho do marquês de Vandenesse destruíra no coração de Moina o respeito que uma filha deve ter por sua mãe. Seu sofrimento aumentou; desmaiou insensivelmente e ficou como que adormecida. A jovem condessa achou que a mãe se tinha permitido dar-lhe uma repreensão bastante severa e pensou que, à noite, com uma carícia ou algumas atenções, se faria a reconciliação. Ouvindo um grito de mulher no jardim, inclinou-se, indiferente, no mo mento em que Paulina, que ainda não saíra, gritava por socorro e sustinha a marquesa nos braços.
- Não assuste minha filha - foram as últimas palavras que pronunciou aquela mãe.
Moina viu transportar a mãe, pálida, inanimada, respirando com dificuldade, mas agitando os braços como se quisesse lutar ou falar. Aterrada por esse espetáculo, seguiu a mãe, ajudou silenciosamente a deitá-la no seu leito e a despi-la. Sua falta a oprimia.
Nesse supremo momento, conheceu a mãe, mas já não podia reparar coisa alguma. Quis ficar só com ela; e quando não se achava mais ninguém no quarto, quando sentiu o frio dessa mãe sempre carinhosa para ela, prorrompeu em copioso pranto.