O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 114 / 279

Neste momento o sentimento é toda a minha ciência.

- Como queira, bela criança. Pensava que era mais forte - disse Vautrin -, não lhe direi mais nada. Uma última palavra no entanto olhou fixamente o estudante - fique com o meu segredo - disse-lhe. - Um jovem que não quer fazer negócio consigo saberá esquecê-lo.

- Disse muito bem, fico contente. Se fosse outro, sabe, seria menos escrupuloso. Lembrai-vos do que posso fazer por si. Dou-lhe 15 dias. É pegar ou largar.

«Que incrível que é este homem!», pensou Rastignac vendo Vautrin partir tranquilamente, com a bengala debaixo do braço. «Disse-me cruamente o que a senhora de Beauséant me disse com floreados. Rasgava-me o coração com garras de ferro. Porque quero ir a casa da senhora de Nucingen? Adivinhou os meus motivos mal os concebi. Em duas palavras, este larápio disse-me mais coisas sobre a virtude do que os homens e os livros me ensinaram. Se a virtude não padece de rendição, então roubei as minhas irmãs? - disse atirando o saco para cima da mesa. Sentou-se e ficou aí mergulhado numa meditação inebriante. - Ser fiel à virtude, mártir sublime! Ora! toda a gente acredita na virtude; mas quem é virtuoso? Os povos idolatram a liberdade; mas onde existe na terra um povo livre? A minha juventude é ainda azul como um céu sem nuvens: querer ser grande ou 'rico, não será resolver mentir, dobrar-se, rastejar, levantar-se, elogiar, dissimular? Não será consentir ser o criado dos que mentiram, se dobraram, rastejaram? Antes de ser seus cúmplices tem de se servi-los. Pois bem, não. Quero trabalhar honradamente, na santidade; quero trabalhar dia e noite, só dever a minha fortuna ao meu trabalho. Será a fortuna mais lenta, mas todos os dias a minha cabeça repousará na almofada sem um mau pensamento.





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